Entenda a relação entre beneficiamento de grãos e coprocessamento

No coração do agronegócio, o beneficiamento de grãos é essencial para transformar a colheita em produtos de valor. No entanto, esse processo gera uma quantidade considerável de resíduos, como palhas e cascas. 

Em um cenário onde a sustentabilidade é um tema relevante, surge uma pergunta: como descartar esses subprodutos de forma eficiente e ambientalmente correta?

É aqui que o coprocessamento entra em cena. Essa tecnologia oferece uma solução inteligente, transformando resíduos que seriam um problema em uma fonte de energia limpa.

Neste artigo, vamos explorar a fundo como o beneficiamento de grãos e o coprocessamento se conectam, revelando uma parceria que otimiza o descarte e impulsiona a economia circular no setor agrícola.

Beneficiamento de grãos: gerando alimentos e resíduos

O beneficiamento de grãos é uma etapa da cadeia produtiva agrícola que transforma a matéria-prima recém-colhida em produtos de valor para o consumo humano, animal ou para a indústria. 

Esse processo, que ocorre em unidades como cerealistas e cooperativas por todo o Brasil, envolve uma série de etapas para garantir a qualidade e a segurança dos grãos.

Processo de beneficiamento de grãos

Basicamente, o processo de beneficiamento inicia-se com a limpeza, onde impurezas como terra, pedras e outras sementes são removidas. Em seguida, a secagem é fundamental para reduzir a umidade dos grãos, prevenindo a proliferação de fungos e micotoxinas, e garantindo sua conservação.

Dependendo do tipo de grão e do produto final desejado, podem ocorrer outras fases como a moagem (transformando grãos em farinhas ou farelos), descascamento, classificação por tamanho e peso, e até mesmo a seleção por cor.

Tipos de resíduos gerados

Apesar de essencial, o beneficiamento de grãos é uma atividade que, por natureza, gera uma quantidade considerável de subprodutos e resíduos. Os principais tipos incluem:

• Cascas — abundantes no beneficiamento de arroz, soja e milho, as cascas são leves e volumosas, apresentando um desafio logístico para o descarte.
• Palhas — resquícios das plantas, muitas vezes misturadas aos grãos durante a colheita e separadas na limpeza.
• Pós e farelos finos — partículas muito pequenas que se desprendem dos grãos durante a moagem, transporte e outros processos, podendo inclusive se tornar um risco à saúde e segurança no ambiente de trabalho.
• Grãos avariados ou fora de especificação — aqueles que não atendem aos padrões de qualidade para o produto principal e são descartados.

Desafios da destinação sustentável

A destinação inadequada desses resíduos do beneficiamento de grãos representa um grande desafio ambiental e logístico. Historicamente, muitos desses materiais acabavam em lixões a céu aberto, onde se decompõem, gerando gás metano (um potente gás de efeito estufa) e chorume, que contamina o solo e a água. 

Outra prática comum, porém prejudicial, é a queima controlada desses resíduos, que libera fumaça, material particulado e outros poluentes na atmosfera, contribuindo para a má qualidade do ar e impactando a saúde das comunidades vizinhas.

Além dos problemas ambientais, a gestão desses resíduos implica em custos de transporte e descarte para os produtores e indústrias, que buscam alternativas mais eficientes e sustentáveis para essa etapa do processo.

Coprocessamento: a solução de alta temperatura para resíduos

O coprocessamento surge como uma das mais eficientes e sustentáveis soluções para a destinação de diversos tipos de resíduos, especialmente aqueles que não podem ser reciclados ou compostados. 

Trata-se de uma tecnologia consolidada globalmente que consiste na utilização de resíduos como substitutos de combustíveis fósseis e/ou matérias-primas no processo de fabricação do cimento. 

Isso significa que, em vez de serem descartados em aterros, esses materiais são incorporados de forma segura e controlada na produção de um dos materiais de construção mais importantes do mundo.

Como funciona o coprocessamento

O processo de coprocessamento ocorre nos fornos rotativos da indústria cimenteira, conhecidos por atingir temperaturas extremamente elevadas, geralmente acima de 1.400°C. 

Os resíduos, que passaram por um pré-tratamento para garantir sua homogeneidade e segurança, são inseridos nessas câmaras de alta temperatura. Nessas condições extremas, a matéria orgânica dos resíduos é completamente incinerada, enquanto a parte inorgânica é incorporada à matriz do clínquer (componente principal do cimento). 

O calor intenso e o longo tempo de residência no forno garantem a completa destruição dos resíduos, eliminando a formação de subprodutos indesejados e gases tóxicos. Não há geração de cinzas ou rejeitos provenientes do resíduo, pois tudo é consumido ou integrado ao produto final.

As vantagens do coprocessamento são múltiplas e abrangem esferas ambientais, econômicas e regulatórias:

• Benefícios ambientais — a principal contribuição ambiental é a redução drástica da necessidade de aterros sanitários, minimizando a ocupação de novas áreas e os impactos associados ao descarte. O coprocessamento também promove a redução das emissões de gases de efeito estufa, pois substitui combustíveis fósseis por fontes de energia alternativas, transformando resíduos em uma forma de energia limpa.
• Benefícios econômicos — para as indústrias geradoras de resíduos, o coprocessamento representa uma economia expressiva nos custos de destinação, que seriam gastos com transporte e descarte em aterros. Além disso, confere uma valorização do resíduo, transformando o que antes era um passivo em um recurso energético ou material. Para a indústria cimenteira, significa uma redução nos custos com combustíveis tradicionais.
• Vantagens regulatórias — no Brasil, o coprocessamento é uma tecnologia legalmente reconhecida e incentivada pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Sua prática está em conformidade com as mais rigorosas legislações ambientais, garantindo que as empresas que o utilizam estejam em dia com suas responsabilidades e compromissos de sustentabilidade, evitando multas e passivos ambientais.

O coprocessamento oferece uma solução circular, transformando o desafio dos resíduos em uma oportunidade de geração de energia e matéria-prima, com benefícios claros para o meio ambiente e a economia.

Conexão: resíduos de grãos como combustível alternativo

A relação entre o beneficiamento de grãos e o coprocessamento é uma ponte estratégica para a sustentabilidade no agronegócio. 

Os resíduos gerados durante o beneficiamento, como cascas de arroz, palhas de milho e soja, e pós finos, possuem um alto poder calorífico, o que os torna ideais para serem utilizados como combustível alternativo nos fornos da indústria cimenteira através do coprocessamento. 

Antes de serem enviados para as cimenteiras, esses resíduos podem passar por um breve pré-tratamento, que pode incluir secagem para reduzir a umidade, trituração para uniformizar o tamanho das partículas ou até mesmo peletização para otimizar o transporte e o manuseio. 

Para o setor de grãos, essa conexão oferece benefícios específicos e muito relevantes: proporciona uma destinação ambientalmente correta para seus resíduos, com um excelente custo-benefício, transformando um passivo em uma solução energética. 

Além disso, ao desviar esses materiais de aterros e da queima descontrolada, as empresas de beneficiamento de grãos contribuem diretamente para a redução da pegada de carbono de toda a cadeia produtiva e, consequentemente, fortalecem sua imagem de sustentabilidade no mercado.

Você atua no segmento de grãos e ficou interessado em saber mais sobre coprocessamento? Entre em contato conosco!